quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Moradores da Azenha lamentam implosão do Olímpico: "É um pedaço da gente que sai daqui"

Moradores da Azenha aguardam implosão do Olímpico com preocupação e saudosismo

A implosão do estádio Olímpico tem sido motivo de debate há meses. Os moradores do bairro Azenha têm se preparado para a demolição do estádio do Grêmio, que está avançando a cada dia. É o caso do zelador Juvelino da Silva, 44 anos, mora em um prédio vizinho ao Monumental. Ele participou da última reunião com os moradores da área do estádio, que ocorreu no dia 6 de agosto. Segundo Silva, ainda não foi marcada a próxima conversa para tratar dos detalhes da implosão. "Não sabemos de nada ainda. Vamos saber na próxima reunião que vai sair. Só não sei quando é. Até agora não comunicaram nada", lamenta. 

A Secretária de Urbanismo de Porto Alegre (Smurb) divulgou na última terça-feira (29) que 60% do estádio já foi demolido e que serão usados 400 kg de dinamite para a operação final. A data para a execução dos trabalhos, porém, ainda não foi definida pelas empresas Ramos Andrade Engenharia e OAS Engenharia. A implosão depende de uma série de licenças, inclusive da migração total do Grêmio para a Arena, na zona norte da Capital.

O que se sabe é que a implosão deve durar 17 segundos, levando cerca de 15 minutos para a poeira se dissipar, e que será em um domingo. A previsão é de que 1,8 mil moradores tenham que deixar suas residências por algumas horas. Durante os trabalhos, os residentes poderão participar de atividades, disponibilizadas pelas empresas, que acontecerão provavelmente no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), localizado no bairro Menino Deus. 

"É um pedaço da gente que sai daqui"

Dos seus 60 anos, o corretor de imóveis Luiz Carlos Milhoranza viveu 28 na região. De sua janela, tem uma vista privilegiada do gramado suplementar da equipe gremista, que possibilita assistir aos treinos. A notícia da saída do Grêmio trouxe tristeza à vida da família Milhoranza. "A gente lamenta pelo estádio porque é um patrimônio do Grêmio. Posso dizer que é um pedaço da gente que sai daqui". 

Os engenheiros responsáveis pela implosão já vistoriaram os apartamentos e tiraram fotos de rachaduras. A equipe afirma que não há risco de possíveis problemas estruturais nos prédios e nas casas vizinhas após a implosão, que será feita através de uma técnica segura. "As empresas já estão se prevendo, e nós também", afirma.

Varejo aguarda a mudança 

Edenilson Davi, conhecido entre os gremistas como "Faísca", é dono do bar Preliminar. O estabelecimento fica localizado no Largo dos Campeões, na esquina das ruas José de Alencar e Dona Cecília. Desde que os jogos do Grêmio passaram a ser na Arena, aponta ele, houve uma queda de 80% no faturamento. 

"Hoje eu não tenho movimento. Meu lucro aqui era em dias de jogos. Então, pra mim, o quanto antes implodir melhor, porque virá gente para trabalhar e terão muitas pessoas circulando para gastar. Estou torcendo é que façam a implosão logo", conta, ansioso. 

Faísca não é o proprietário do local de onde retira sua fonte de renda. Paga R$ 1,8 mil reais pelo aluguel do imóvel na Azenha. A pedidos de torcedores e clientes fiéis, abriu um estabelecimento comercial no Humaitá, em frente à Arena. Lá, paga atualmente R$ 1,6 mil, valor que subirá a partir de janeiro, passando para R$ 1,9 mil.

"Aquela área supervalorizou. Eles acham que estão na Padre Chagas", ironiza Faísca. Mesmo com o ponto no novo estádio do Grêmio, o movimento ainda é fraco. "No Humaitá eu não vendo nem a metade do que eu vendia aqui. Mas pelo menos eu sou o que mais vende na volta", alega.

A implosão do estádio Olímpico levará à região da Azenha um shopping center e 12 prédios. Aos moradores nostálgicos, restará a saudade e a lembrança das festas que muito presenciaram ali. Aos novos empreendedores, a ansiedade de uma nova oportunidade os instiga. De qualquer forma, nada vai acontecer ali, literalmente, até a poeira baixar.

Jornal do Comércio